terça-feira, 27 de novembro de 2012

Por que ter um Hobby é tão importante?


        Já tem um tempo que tenho refletido a respeito da importância de ter um Hobby e muitos pensamentos sobre o mesmo assunto resultam sempre em um post.

Então presta atenção neste bizu do Ermitão!

O que é um Hobby?

Definição do dicionário: Algo interessante que se goste muito de fazer nas horas vagas e para passar o tempo.

Definição do Ermitão: Atividade praticada quando possível, com o objetivo de entretenimento e desenvolvimento.

Por que ter um Hobby é tão bom?



        Nascemos, crescemos, nos reproduzimos e morremos. O que você faz para deixar sua vida mais interessante? A única coisa que compartilhamos e que perdura independente do tempo é o conhecimento, porque dinheiro uma hora se vai. Cabe a você decidir o que fazer com seu tempo livre. Sua vida é suficiente trabalhando, pagando contas e vez ou outra indo a baladas ou barzinhos? Se sua resposta é sim, tenho o maior prazer em discordar! Existem milhões de assuntos a serem discutidos e atividades a serem praticadas que é impossível que nenhuma delas possa te agradar.

Para você que quer ter filhos, qual o conhecimento que passará a eles? Dicas de como pegar gatinhas na balada? Lembre-se que isso só funciona para mulheres do seu tempo! Tudo bem que algumas artimanhas nunca cessam, mas passar algo de valor aos seus descendentes é certamente mais interessante, não é mesmo? No mesmo molde do post “Parar de beber e de fumar – O que muda?”, segue alguns porquês.

1.       Desenvolvimento


Como está sua agenda? Quais são suas metas nesta vida? Como você se enxerga daqui a alguns anos? Você tem um plano? Você sente que está evoluindo? Até que ponto? Você busca se superar?

Parecem perguntas de entrevista de emprego, mas todas elas estão ligadas a uma palavra: desenvolvimento pessoal. Passamos nosso tempo livre fazendo algo que gostamos, mas é melhor ainda fazer algo que não nos deixe na monotonia, rumo à estagnação. Se seu hobby é praticar algum esporte, entenderá o que quero dizer com isso. Não é mais gostoso cada vez mais melhorar seu desempenho? Se os chutes no futebol não estão tão calibrados, é normal que venha a frustração, porém é o ponto de partida para o aperfeiçoamento. O simples fato de pensar em como bater em uma bola e tentar executar o movimento perfeito para que ela atinja o destino desejado, já são exemplos de fases do desenvolvimento.

O mesmo ocorre com qualquer outro hobby.

Se seu hobby é escutar música, é normal que se busque mais informações sobre novos cantores, novas bandas, novos arranjos, novos estilos musicais – para quem manja de música, sabe que não existem bons estilos musicais, existem boas músicas, não importando o seu gênero – Quanto mais se estimula este conhecimento, mais a memória trabalha e, novamente, desenvolve-se.

Para quem tem filho, é quase uma obrigação incentivá-lo a ter um hobby. Quantos antes, melhor! Ao longo do seu desenvolvimento, a criança vai tomando sua atividade prazerosa como porto seguro, é algo que vai sempre lhe assegurar a autoestima. A criança que começa cedo tem vantagem, pois conforme vai se tornando madura, vai se tornando melhor no que faz e assim reduzirá as chances de depressões sazonais, bem como ócio improdutivo. Uma boa dica é o incentivo a arte para as crianças, seja pintura, teatro, música, artesanato ou qualquer outro tipo de manifestação artística. As crianças tem mais facilidade com a expressão! Uma criança criativa e incentivada produzirá muito mais do que uma criança que fica a mercê dos programas familiares como visitar os avós, tios, etc. É importante que os pais abracem a causa e desfrutem do momento tanto quanto a criança, pois assim todos desenvolvem juntos. É muito mais que uma atividade, é desenvolvimento e qualidade de vida.

Exemplo prático: Tenho diversos hobbies e, obviamente, escrever é um deles. Tenho vários objetivos quanto a isso, por exemplo, escrever um livro. Gosto de escrever algum conto com influência de algum escritor e tento evidenciar isso. Se meus leitores comentam a respeito desta evidência, é porque um dos objetivos foi cumprido. Tenho expectativa de quantos leitores terei em alguma divulgação, tenho que tentar manter certa qualidade para que leiam meus textos até o fim, etc, enfim, são vários os objetivos dentro de um só hobby.

Qual é a boa de tudo isso? Estipular metas se tornará um exercício comum do pensamento e aos poucos isso se alastrará sobre uma série de outros fatores. A sede de desenvolvimento só tende a aumentar e tudo que é feito, pode ser feito melhor e assim evoluímos de maneira saudável.

2.       Como você é lembrado?


Talvez este item não seja aprovado por muitos, especificamente aqueles que dizem “Não me importo com o que os outros pensem de mim”, o que é quase impossível. Nem que seja um pouco, acredito que grande parcela ou a maioria dos que integram uma sociedade se importam com a reputação. Para quem trabalha é importantíssimo manter certa postura, afinal de contas, quem não quer alavancar a carreira, ganhar mais dinheiro e elevar a qualidade de vida?

Não tem nada de ruim nisso, não é mesmo?

Como você é lembrado? Se for o cara ou a mulher das baladas, comece a rever seus conceitos! Todos sabemos que é importantíssimo sair e descontrair, mesmo porque é algo que fortalece vigorosamente o networking, mas abraçar o estilo de vida boêmio e fechar os olhos para qualquer outra programação é perder tempo. Para quem estuda e trabalha sabe que é difícil “viver”, não existe muito tempo disponível. Têm conhecidos meus que saem na sexta, no sábado e quando conseguem, no domingo. Lembro destes desta maneira mesmo.

Pense em seus colegas de trabalho e nos colegas de faculdade. É mais fácil lembrar daqueles que possuem características diferenciais: fulano que gosta de escalar, ciclana que luta boxe, beltrano que tem uma banda, etc. Por muitas vezes, dependendo do hobby ou dos hobbies de alguma pessoa, ela passa a ser admirada. Por mais que muitas vezes você não seja a pessoa que melhor conversa, sempre será lembrado como o cara que joga vôlei e, ainda mais, pode se tornar referência no assunto! Quem quer que tenha vontade de jogar ou curiosidade sobre o assunto, não pensará duas vezes em recorrer a você e esta pessoa pode ser seu chefe, seu colega de trabalho, seu professor ou até mesmo aquele cara que manda bem nos trabalhos de faculdade. Ter um hobby pode estreitar os laços com muitas pessoas a sua volta.


É normal associar uma atividade a uma pessoa, nosso cérebro toma referencias.

3.       “Mente vazia, oficina do diabo”


De que maneira você utiliza seu tempo livre? Aquelas horas que você está fora do trabalho e da faculdade são utilizadas de que maneira? Felizmente ou não, temos um entretenimento deveras interessante chamado FACEBOOK. Quantas horas do seu tempo livre você navega por infinitas timelines, rindo de piadas, stalkeando a vida alheia, compartilhando, curtindo, etc? Não acho ruim dependendo do seu propósito! Se você contribui, de fato, com algo interessante, ótimo! Também é legal compartilhar piadas para dar umas risadas, algumas besteiras são mesmo necessárias para tornar nosso dia-a-dia mais descontraído, ainda mais na atualidade cheia de compromissos, turbilhões de informações, trabalhos, faculdade, filhos e tudo mais que exige muito processamento mental. O importante de tudo é manter o equilíbrio. Não estou dizendo que seja errado só compartilhar porcarias em rede sociais, mas acredito que a ferramenta é um potencial meio de comunicação, algo em que podemos produzir para de fato sermos vistos e apreciados.


Este é apenas um exemplo, a grosso modo, é melhor ter um hobby para minimizar o ócio improdutivo em excesso. O ócio improdutivo é necessário! Não é a toa que a Google tem aquele método de trabalho extremamente diferenciado, onde os funcionários podem cumprir sua carga horária semanal como bem desejar e com liberdade para transitarem na empresa praticamente como transitam em casa. Não preciso nem comentar quão sucesso ela faz, né?

O problema é se afundar nesse ócio excessivo. “Ah, mas não tenho como praticar meu hobby em casa”, ah, tem sim hein? Até mesmo pesquisar maneiras de desenvolver ainda mais seu hobby pode ser um complemento! Ou pode até procurar um hobby que se adapte às suas necessidades. Já disse lá em cima e repito, sempre existe algo que lhe interessará, é muito assunto para se alienar afirmando “ah mas não tem muita coisa que eu goste de fazer”, certamente é porque você não tentou, pois o conhecimento é infinito e “meter a cara” em alguma atividade prazerosa e que te desenvolva, minimiza as chances de você se tornar uma ameba, o capitão ócio dos mares da inutilidade das redes sociais.

Conforto excessivo é viciante, coisa da capeta! Quanto mais você se conforta, mas o ócio te engole.

É facílimo perder quatro horas de um final de semana navegando na internet só vendo porcaria. Uma vez ou outra tudo bem, mas quando isso se torna rotina, tenho um conselho pra você: tem que ver isso aí.

4.       Personalidade


Geralmente quem não tem opinião formada sobre assuntos importantes e/ou polêmicos, são as mesmas pessoas que não tem hobby, coincidência?


Quando se busca desenvolvimento através de alguma atividade de prazer, a serotonina é estimulada e alavanca a busca constante por conteúdo, tornando-se um vício, dos bons. Quem se desenvolve, não se afunda no ócio improdutivo e evita construir uma personalidade pobre.

Vamos pensar num estereótipo bem comum da sociedade, o boêmio: como se não bastasse a falta de criatividade e valor nas programações, seus papos se limitam apenas a: baladas, churrascos, quem pegou/quer pegar e trabalho. Até mesmo em mesas de bar, onde discussões políticas (exemplo) não fundamentadas em absolutamente nada, tomam rumos estonteantes (chego a me admirar com tanta criatividade), mas tudo faz parte deste estereótipo que pintei, os vazios de alma. Pessoas que constroem valores em cima de nada e suas vidas são constantemente preenchidas com blocos de futilidade.

Se “seu eu” é constituído de programas e pensamentos boêmios exclusivamente, é hora de rever seus conceitos. Ser boêmio é bom, é ótimo e até maravilhoso as vezes, mas como parte da sua engrenagem humana, não como sua definição como pessoa.

Estou detonando quem não tem hobby? Sim, estou mesmo. É muita gente para pouco pensamento, pouco desenvolvimento e muitas palavras ao ar, visuais exuberantes com reflexos invisíveis. Pessoas que vestem valores que não existem e se frustram ao procurar um rosto no espelho.

Muitas pessoas que não tem hobby, que não carregam traço algum que lhes traga algum brilho, costumam comportar todos os problemas que citei nos outros três itens. Quem fecha os olhos não se permite fazer com que os olhos brilhem, ficam para sempre na escuridão, ofuscados pelas sombras dos seus semelhantes.

Dicas!


Dica 1: Para quem não tem muita ideia do que fazer, aconselho a procurar organizações que necessitam de voluntários. No primeiro semestre deste ano participei de diversos voluntariados e acabou se tornando um hobby. Além de ajudar a sociedade e o ambiente, você aprende muito e sobre muitos assuntos, basta procurar! Grandes empresas como Boticário, GVT e Petrobrás sempre procuram pessoas para trabalhar em projetos bem bacanas, a única coisa que precisa fazer é levantar a mão e ir com vontade.


Dica 2: Não dependa dos outros para começar, a solidão ensina muito! Dizer que só faz algo acompanhado é se limitar, e para desenvolver é necessário quebrar algumas barreiras. Infelizmente são poucas as pessoas que buscam agregar valor em suas vidas e as companhias são poucas mesmo. Por depender de alguém, você pode acabar sentado a vida inteira. Não espere os outros, seja o exemplo, funciona melhor do que começar junto. Quando um começa e se mantém constante, é muito mais difícil de desistir, do que quando se inicia uma atividade com alguém. Depender dos outros pode também afetar a sua força de vontade, sua carência aos poucos será suprida consigo mesmo.


Já dizia Jean Paul Sartre: “Se você sente tédio quando está sozinho é porque está em péssima companhia”. Simples, não? Nessa se encaixa aquela outra frase, manjada, mas verdadeira “Quer mudar o mundo, comece mudando você mesmo” algo assim, mas sabem do que estou falando, né?

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Crônicas do Ódio – Desabafo no escritório

          Na última noite de trabalho, saí as duas da madrugada, estava cansado. As pessoas, os telefonemas, os cortes de verba e até mesmo o café terrível da máquina me irritava. Tudo me irritava. Assim que saí do prédio, mais uma vez tendo certeza de que minhas horas extras não seriam recompensadas, fui para casa e tive bons e saudáveis pensamentos.

Dormi pouco, minha cabeça havia sido tomada por recreações do meu subconsciente. No caminho para o trabalho, passei no boteco de esquina e comprei uma cerveja de garrafa e segui. Ao passar pela catraca, o segurança me olhou, olhou para a garrafa em minhas mãos e novamente me olhou. Sorri e disse:

- Bom dia, Seu Itamar!

        De vez em quando as pessoas traziam bebidas para a empresa, mas para dar de presente e confraternizar falsamente perante aos olhos corporativos superiores, sugerindo alguma noite para todos abraçarem o drink em supostas comemorações de afetos vazios. Ah o networking! Geralmente era algum vinho ou whiskey importados, algo que transcendesse status e futilidade, acompanhados por um sorriso arrogante. Eu estava com uma garrafa de cerveja em mãos, geladinha. Na fila do elevador um cara do mesmo andar que o meu se manifestou:

- E aí Gregory! Vai dar de presente para quem essa “iguaria”? – e começou a rir junto com mais uma meia dúzia.

- Vou dar de presente para a sua mãe, seu pederasta arrombado! – respondi alto, sorrindo.

Silêncio total. As pessoas em seus terninhos e roupas sociais engomadas empalideceram. Não era normal alguém revidar uma piadinha, por mais escrota que fosse.

        Dentro do elevador, silêncio. O meu andar era o último e eu e mais cinco pessoas descemos e rumamos cada um para suas respectivas mesas, o piadista inclusive. Não demorou para que os comentários tomassem as mesas. Pessoas apontando para a cerveja, gelada, em minha mão direita, rindo, comentando sobre a deselegância cometida pouco antes e fazendo o que fazem de melhor: fofocando pra caralho.

Ainda de pé, tirei um abridor de garrafa do bolso, e abri, lentamente.

‘Tssssssssssssssssssssssssss’

Conforme o barulho foi cessando, todos foram, um a um, olhando para mim. Rodney, o campeão do bullying corporativo soltou:

- Ihhh, ta fazendo showzinho!

Ele mal sabia que o show ainda não havia nem começado.

        Peguei a garrafa e comecei a beber. Gole a gole, as pessoas do ambiente familiar e corporativo, certos cada um em seu cerco saudável, dentro dos padrões da sociedade, chocavam-se ao observar o nível do foda-se no qual eu me encontrava.

Bebi tudo sem tirar da boca e terminei com os olhos lacrimejando por causa do gás. Ao fundo, minha gerente gritou:

- Pelo amor de Deus, o que ta acontecendo aqui? Quer me explicar, Sr. Gregory?

- Só um momento, por favor, sra Adriana.

Após proferir estas últimas palavras, coloquei a mão direita sobre o peito e, como em posição de amor a pátria, soltei um arroto magistral, daqueles que só aparecem em filmes. Após o urro gutural de pelo menos seis segundos, as pobres almas no recinto entraram em colapso. Uns riam freneticamente, outros esboçavam indignação total.

Peguei minha mochila e fui ao banheiro.

        Entrei no sanitário reservado para deficientes, fechei a porta e sentei na privada. Não tinha mais volta, agora que os tigres já haviam quebrado as grades, não haveria como sequer pensar em parar com o plano. O álcool entrara em minhas veias e trazia sensação de tranqüilidade.

Eu definitivamente não me sentia nervoso. Eu precisava muito disso. Eles também.

        Abri a mochila e de lá tirei os instrumentos necessários para tocar a ópera: Um capacete de futebol americano, um taco de beisebol de madeira maciça, meu velho mp3 com fones de ouvido e um apito. Coloquei o aparelho e o apito no bolso, os fones nos ouvidos e o capacete na cabeça.

Deitei o pescoço para trás e fechei os olhos.

Vi o céu azul, pássaros cantando e uma garoa fina caindo sobre mim, sobre meu capacete.

Ainda com os olhos fechados, segurei o taco de beisebol e apertei o play.

Dê play você também, amigo leitor. Escute comigo enquanto lê.

OBS: É apenas uma sugestão, mas você pode escutar qualquer música que te dê vontade de quebrar ossos.

A chuva engrossou, o céu se fechou e os relâmpagos começaram a cair. Abri os olhos.

        Levantei, abri a porta e saí do banheiro. Deixei a mochila ali, não precisaria dela mais.

O único cara que eu gostava e que me conhecia bem, levantou instantaneamente e correu para fora, dizendo algo que não compreendi. Cara esperto.

        Corri rapidamente até a porta, logo após o Carlos ter saído. A porta abria somente se alguém passasse o crachá magnético. Não escutava nada. A música estava altíssima, só via o pessoal horrorizado, com olhares perdidos, uns se entreolhando, outros me encarando. Vi todos os bundões me olhando, vi todos os valentões com olhar de raiva.

Vi todos.

        Coloquei o apito na boca e soprei. Um apito longo e ensurdecedor. Desta vez quem não estava olhando para mim, olhou. Vi pessoas pegando o telefone e começando a fazer ligações. Eu sabia que não teria muito tempo, mas digamos que... seria o necessário.

A intensidade do momento traduzia o valor imensurável.

        Como se fosse acertar uma bola de beisebol, dei uma tacada no alarme de incêndio. O vidro se quebrou e imediatamente o sistema começou a funcionar, molhando todos que estavam no andar. O bom de usar um taco desse calibre é que não precisa de muita força para fazer um belo estrago. Prático para quem usa, sofrido para quem leva. Após esta primeira investida, descansei o taco em cima do ombro. Um perfeito jogador, admirado por todos.

Pensei em apagar a luz, mas não.

Eu precisava ver tudo aquilo da melhor maneira. O cenário estava maravilhoso. Pessoas levantando sem saber o que fazer, olhares perdidos, e o que eu mais tinha gosto de ver: os otários que eu odiava, olhando-me completamente emputecidos e, também, sem saber o que fazer.

É uma situação complicada quando você vê um cara com um capacete de futebol americano e taco de beisebol em mãos logo em frente a saída, e o pior, com uma cara de quem quer fazer cagada.

        Quando vi o primeiro imbecil correndo em direção a porta, imediatamente dei uma tacada no sistema de abertura da porta. O curto circuito indicou que o que quer que pudesse abrir a porta, tinha azedado.

Show time!

        Eu era magro, mas com um taco em mãos fiquei gigante. Vi o Paulo fazendo um telefonema. Um maluco que não me descia, vivia implicando comigo toda hora. Chamava-me de vareta, caveira do thundercats e chassi de grilo pelo meu porte nada avantajado. Ele seria o primeiro. Caminhei lentamente até a mesa dele, o cara estava tremendo. Ainda falava no telefone. Olhei nos seus olhos, pude ver que a fonte de terror refletia em seus olhos verdes.

Dei uma pancada de cima para baixo, destruindo o telefone em centenas de pedaços.

Mesmo sem poder ouvir, sei que gritou. Seu rosto esboçando pânico, com a boca bem aberta, denunciava seu estado mental.

Puxei o taco do meio dos destroços rumo ao centro daquele rosto que me olhava tremelicando. Acertei em cheio no nariz. O sangue explodiu de sua face, fazendo com que vários pingos irrequietos caíssem por sobre a mesa, sobre a roupa e lambuzando a ponta do taco que o atingira. Pude sentir seu rosto afundando para dentro, ossos se quebrando. Caiu dormindo.

Que sensação maravilhosa!

        Pensei comigo mesmo “Que vontade de fazer isso mais vezes” e o melhor de tudo é que faria! Nada melhor do que poder jogar no fliperama quando a máquina está no FREE PLAY. As pessoas corriam desesperadamente de um lado para o outro, feito baratas tontas. Senti uma pancada nas costas e várias teclas voando.

Tinha alguém mais louco que eu no recinto.

        Olhei bem dentro dos olhos do João, um fulano enorme, que pesava uns 150kg e que vivia cagando na cabeça de todo mundo. Era gerente de uma das áreas e vivia cortando recursos das atividades, inclusive das minhas. Negociar com ele era uma merda. Sujeito arrogante que se gabava por achar que era melhor que todo mundo. Típico maluco que acha que tem um rei na barriga, sabe? Achava que era o fodão e agora estava lá, olhando-me com cara de bundão com um teclado pela metade em mãos. Será que ele pensou mesmo que um teclado iria me derrubar? Putz, não cheguei a pensar que me subestimariam a este ponto.

        Coloquei o taco em cima dos ombros, fazendo pose de rebatedor novamente e assim que João Gordão se virou para correr, acertei uma tacada perfeita no calcanhar. Um golpe meia lua, que começa de cima, vai para baixo e termina em cima novamente.

Que cena estupenda ver 150kg de puro ego se arrebentando no chão.

        Ficou ali mesmo, com as mãos no calcanhar, todo vermelho. Parecia um porco de terno. Ri alto, que show! Procurei meu próximo alvo e encontrei: Rodney. Muito sabiamente estava pegando o extintor de incêndio para me porrar. Arminha deveras capciosa, hã?! Assim que tirou a trava, veio para cima, apertando a alavanca e gritando feito um doente mental. Cheguei a pensar “Será que o maior dos panacas vai acabar com a minha brincadeira?”.

        Fui correndo por entre as mesas enquanto o cara despejava os jatos de água em minhas costas. Como era grandalhão e forte, ia mais devagar que eu, ainda mais com um extintor em mãos. Avistei um aparelho de fax que seria um projétil de grande ajuda. Parei ao lado da mesa onde o aparelho estava, deixei o taco de beisebol de lado por um instante, arranquei os cabos rapidamente e atirei na direção do Rodney. Ele defendeu com o extintor, mas não defendeu a tacada em sua orelha. Esta foi em homenagem a todos os bombados sem cérebro que conheço. A vocês, meus caros amigos bombados, fica aí minha grande admiração.

Mais um momento de êxtase. O taco moía o crânio, entrando uns bons centímetros antes de parar.

        Rodney caiu em frangalhos no chão, com a boca aberta, babando e o nariz sangrando. De longe, tinha sido meu melhor estrago. Levantei a viseira, olhei bem para o rosto deformado, levantei a viseira e soltei um vistoso catarro em sua direção. Este com certeza não se folgaria com mais ninguém, quem sabe no inferno.

        Minha cabeça estava a toda e, em meio as minhas tempestades mentais, as nuvens formavam a palavra CAOS. Os tigres estavam destruindo tudo e sanidade definitivamente era uma palavra inexistente no meu dicionário temporal.

        Três idiotas corriam em minha direção. Dois deles eu conhecia e garanto que eles estavam com tanta vontade me arrebentar quanto eu estava de massacrá-los. Um deles era baixinho, com um bigode enorme e óculos fundo de garrafa, o que eu não conhecia. Este corria com dificuldade, carregando em mãos um monitor, enquanto os outros dois vinham com um gabinete cada um. Excitado, arrebentei um monitor que estava próximo, como quem diz: “Venham!”. Eu havia deixado de lado a comunicação convencional, quem quer que tivesse assumido o controle não gostava de falar.

        No meio do caminho, o baixinho de bigode tropeçou em um fio de telefone e caiu. Bateu a cara no monitor que carregava e levantou a cabeça com o nariz sangrando e cara de idiota. Que cena patética.

        Três seria possivelmente um problema, mas dois era o mesmo que nada. O que corria mais a frente era um idiota do financeiro. Eu odiava todos os caras do financeiro. Odiava o departamento, as atividades, os controles, os analistas e todos que estavam naquela maldita área. Em todas as reuniões eram os caras que mais torravam o saco e ainda tinham fama de fofoqueiros, gente do pior tipo.

Gente do tipo que merece dar uma mordida num bife de madeira maciça.

        Para minha sorte era bem o cara que tinha comido minha ex mulher. Dênis, the penis, não era alto, mas também não era baixo e tinha porte de atleta, com pose de canário belga. Tinha ganhado este apelido justamente pela história com minha ex. Era o típico rapaizinho criado a leite com pêra e ovomaltine, o garotão da mamãe. Cabelinho meio moicano, daqueles moderninhos. Vivia arrastando o nariz pelo teto, o cara mais arrogante que já vi. O pai lhe deu o cargo que ocupava, deixando mais evidente o quão bosta ele era. Se tem algo que me irrita é ver gente que não merece ocupar cargo por indicação de família ou em troca de favor. Ele e minha ex mulher se mereciam, dois lixos.

        Não menos importante, o cara que vinha logo atrás era o Gerson, tiozão escroto do TI, estava ali por causa de uma reunião. Pena que marcaram no dia errado. Vivia engambelando geral, fazia de tudo para não trabalhar. Cagava e andava e ninguém demitia o filho da puta. Jogava baixo mesmo! Xingava os outros, cantava as mulheres nos corredores e ainda peidava nas reuniões. E ria ainda! Reza a lenda que era envolvido com alguma zica com pedofilia. Garanto que nem o dono da empresa sabia por que mantinham um sujeito como aquele.

        Denis the penis corria vigorosamente com o gabinete em mãos, levantando-o, pronto para me acertar de cima para baixo. Tentei desviar da pancada, mas o maldito me acertou no ombro. A pancada foi forte a ponto de me tirar um fone de ouvido.

- Te peguei, seu doente!

Dei uma cabeçada com o capacete nele, vantagem minha. Ele tonteou, mas não caiu.

        Enquanto o outro recobrava a consciência, tive de cuidar do Gerson. O tiozão corria agitado e levantou o gabinete, assim como fez o Dênis. A natureza estava pelo menos quarenta anos a meu favor. Desviei da investida e o acertei com tudo nas costas. O velhote foi de encontro ao colega que tentava voltar a si e ambos caíram no chão.

Dênis the penis, de quatro, com a bunda em minha direção. A vida dá voltas, meu caro.

Como se fosse rebater uma bola baixa, mergulhei o taco com toda a força por entre as pernas do, agora, Dênis no penis.

        Olhei um grupo de pessoas correndo para outro lado como que se preparassem para algo. Entre eles, meu chefe. Um sujeito que vivia cagando na minha cabeça mesmo quando não devia. Devia ter problemas sexuais em casa. Vi a garrafa de cerveja em minha mesa e lancei com toda força. Acertei em cheio na cara do sujeito. Uma garrafada dessa a uns 10m de distância certamente tinha causado um belo estrago, mas não pude ver porque o tempo parou.

        Escutei uma explosão às minhas costas e sabia o que significava. Soltei o taco, levantei a viseira, peguei um cigarro Camel em meu bolso, acendi e fiquei só observando, enquanto a polícia invadia o local. Ao menos uns 15 passaram pelo buraco imenso aberto no lugar onde estava a porta. Todos fortemente armados, cercando-me. Levantei as mãos em posição de rendido.

Game over.

        Olhei para toda a destruição que tinha causado. Os corpos no chão, a quantidade de eletrônicos destruídos, a sala toda molhada por causa do sistema anti-incêndio, o taco sujo de sangue e um grupo de pessoas me olhando completamente aterrorizadas. Faltou muita gente levar porrada, mas mesmo assim, valeu a pena. Os anos na cadeia passarão se arrastando, mas nada valeu mais a pena em toda minha vida que estes dez minutos repletos de insanidade.


sábado, 22 de setembro de 2012

Somos cegos, surdos e mudos, mas foram eles que nos deixaram assim


   Estamos em pleno 2012, em um mundo globalizado onde se fala de acessibilidade e tecnologia. Era na qual a Apple é líder de mercado por ter como maior diferencial, a facilidade para manipular seus aparelhos, mostrando que todos estão cansados de complicações. Antigamente, quanto mais complicado, mais inteligente, pois de certa forma fazia de seus criadores e usuários, gênios. É uma grande pena que este novo conceito não tem se estendido a um assunto importante, a língua na qual todo cidadão deveria ser fluente, o conceito no qual todo cidadão deveria ter seu esclarecimento, a política. É uma grande pena que o brasileiro não entenda a política e neste post vou expor importantes informações a respeito do porquê vivemos esta realidade.

               Faz pouco tempo que comecei a me interessar de fato pelo assunto neste ano. Sou da opinião que política não é um dos assuntos mais legais, mas é necessário compreender sua importância. O fato de eu nunca ter me interessado anteriormente, deve-se ao fato de eu ter sido um cidadão despreocupado? Também.

Gostamos de informações fáceis de compreender, algo que consiga prender nossa atenção tornando o momento do estudo prazeroso. O grande problema é que os ensinamentos de política são passados como se não fossem tão importantes, não sendo um problema dos professores de filosofia/história e sim dos líderes do poder público que ditam o que é pertinente ou não o aluno aprender. Você já teve alguma aula na qual o professor ensinou o que faz o presidente, governador, prefeito, vereador, etc? Se sim, que bom, teve uma educação ao menos justa neste ponto, mas a maior parte dos brasileiros não teve esta oportunidade.

Semanas atrás estava pesquisando candidatos a prefeito e até tive sucesso na empreitada. Encontrei vídeos de debates no You Tube, a Gazeta do Povo contribuiu significativamente com as sabatinadas e com base nestas e em outras informações pude decidir meu voto. O grande problema que encontrei foi quando comecei a pesquisar sobre vereadores.

Para prefeito tudo bem, são só 8 e boa! Pude pesquisá-los um a um, no começo com certa dificuldade, mas aos poucos encontrei informações que posso chamar de centralizadas, como as sabatinadas já citadas. Quando verifiquei que o número de vereadores era 755, pensei “Bom, com tantos candidatos, deve ter algum portal com informações breves das propostas, fazendo com que o cidadão se sinta mais a vontade e possa escolher seu candidato.” Encontrei esse treco:

http://oestadodoparana.pron.com.br/politica/noticias/67753/?noticia=vereadores-com-suas-propostas-para-a-juventude

Digo treco porque isso pra mim não serve de nada, a não ser pra ver qual candidata é mais gatinha ou algo idiota do tipo, porque sinceramente, olhem esta proposta:


 Não faço questão de riscar o nome do candidato porque este tem mesmo é que ter vergonha de como está se apresentando à população. Se a droga do jornal limitou em caracteres o campo, que, por favor, explique em miúdos (bem miúdos) algo sobre a proposta, algo que incite uma pesquisa mais afim. Lembrando que provavelmente estes pagaram pra estar aí já que não constam nem um terço dos candidatos.

Confesso que pensei assim porque na academia, através dos conhecimentos de marketing, estudamos que a informação importante necessita estar atrelada a acessibilidade, o que definitivamente não acontece na política. Não é a toa que pouca gente se interessa, afinal de contas, como tomar gosto por algo completamente desestruturado no quesito “acesso a informação”? O brasileiro mal gosta de ler, quem dirá ficar caçando informação sobre candidato.

Não sei até que ponto isso poderia ser feito, mas já que a gazeta tem toda uma estrutura sobre as eleições em seu portal, no mínimo deveriam constar as propostas de cada um, com um arquivo a ser disponibilizado para download ou algo do tipo. Pensei em um portal com informações genéricas de cada candidato, sendo prefeito ou vereador e um link para a proposta do cidadão, mas não, ao invés disso tem a informação da PORRA DO TIME DE FUTEBOL DO CARA...


Pode parecer exagero, mas é o tipo de informação que dá pano pra manga. A informação do time de futebol é importante? Lembram do último candidato que tinha como identidade o time de futebol? O tal Julião Caveira? Deixe-me refrescar vossa memória:




É, deu para ter uma ideia da merda que é votar em um cara por amor a camisa, né? Tem que ter amor a bandeira da sua nação, pois é ela que te fará dormir bem e acordar mais tranquilo para trabalhar, que lutará por seus direitos deixando em foco o combustível do ser humano, a qualidade de vida.

            Fico pensando que se tiver mesmo tudo isso que comentei, talvez fique fácil de identificar que são os canastrões da política. Os caras com grana e rabo preso têm medo de expor suas carreiras, seus históricos na rede. Como não temos “na mão” dados como: projetos prometidos x concluídos de candidatos a reeleição, histórico de negligências e gastos com o dinheiro público em besteiras destes, gargalos da sociedade que necessitam atenção e ademais informações baseadas em dados de instituições não partidárias, temos que provar que somos espertos e lidar com o que temos.

Os tempos estão mudando, nossa democracia já não é mais um bebê e agora a educação está bem acessível à maior parte da população, com faculdades de todos os preços possíveis, ensino a distância e etc. O senso crítico só é desenvolvido através de muito empenho e estudo, portanto faça sua parte como cidadão e seus filhos certamente agradecerão. O mundo não está perdido e quem diz que está é porque nunca tentou entender como funciona o sistema e é conformado com as decisões governamentais. Não temos nem trinta anos de democracia (considerando o conceito de democracia após o final da ditadura – 1985), portanto não é motivo para largar os bets, afinal de contas só tivemos gestão de três presidentes e ao que indica, estamos alargando nossos passos. Somos cegos, surdos e mudos, mas foram eles que nos deixaram assim e não vamos aceitar esta condição!

Vamos provar que não temos memória curta, que não nos esquecemos dos erros políticos e que buscamos renovação. Escolhemos muitos caminhos em nossa vida, mas já nascemos cidadãos e cabe a nós decidirmos o destino da nossa verba, o dinheiro é nosso e quem são os ditadores somos nós!

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Dia 1 - Independência In The Jungle

               Assim que chegamos, levamos um quase-choque ao sermos informados do preço até domingo... 46 mangos (sim, somos pobres). Como todo mundo estava mais duro que pau de tarado com as moedas contadas, quase negociamos nosso rabo solicitamos gentilmente um desconto e conseguimos por 40 mangos de sexta até domingo. O Alemão deixou bem claro que não queria que ninguém acampasse próximo a cachoeira, por motivo de que outras pessoas incompetentes e porcas andaram cagando perto das áreas de banho (pode isso, Arnaldo?) desrespeitaram o local, defecando no mato, mesmo com o lugar oferecendo banheiros com privadas limpas, papel higiênico e chuveiro quente. Tem gente que definitivamente tem merda na cabeça, né?

             A montagem das barracas foi tranquila... para alguns. Assim que tinha terminado de tirar umas fotos, avistei a Nat e a Lê olhando para a barraca no chão, com um olhar confuso, como se estivessem analisando um óvni, sem nem saber por onde começariam. Importante citar que essas minhas amigas entendem tanto de sobrevivência no mato quanto eu entendo de motor de fusca.

                A barraca da Nat ficou quase 100%, tirando o fato de não ter lona protetora, indicando que alguém cagaria de frio sentiria com mais gosto os ventos do campo durante a noite.

     Outro com dificuldades ao montar a barraca era nosso amigo Kauan, o Kuririn. Ao tirar a barraca da bolsa de proteção, identificou uma vareta quebrada, o que danificaria sua estrutura, a ponto de ficar inviável utilizá-la. Porém, o Kuririn é brasileiro e não sei como diabos, deu um jeito nisso, deu a volta por cima e ninguém notou que a barraca estava quebrada, foi com silvertape e pedaços de pau ou algo do gênero. Peripécia da qual só ficaria sabendo ao longo desta semana.

     Um terceiro grupo estava montando uma barraca com um formato jamais visto por mim e os demais. Não era um modelo iglu igual a todas as outras, era em modelo retângulo, o que complicou a equipe de montagem: Rafa, Alexandre (Ar) e Allan (Shiryu). Como já tinha gente de mais ajudando, apenas observei enquanto montava a minha. Não pude deixar de notar as cores da barraca do nosso amigo Huppes. Todos os pedaços da barraca tinham cores diferentes, deixando a barraca com um aspecto meio... circo. O Huppes é definitivamente um cara estranho estiloso, surpreendendo em todos os aspectos: bigode, fusca e agora... barraca circo. Já diriam as frases memoráveis do falecido Orkut: EsTiLo Ou VoCê TêM oU nÃo rSrSrs. Como o Shiryu estava desabrigado, ofereci minha barraca, que tinha espaço de sobra. Coloquei meu isolante térmico no chão da barraca e logo em seguida o saco de dormir. Questionei meu colega de quarto, que se vangloriava da exuberante variação de dois tipos de repelente, onde ele dormiria e a resposta veio singular:

- Só trouxe o isolante térmico.

Afinal de contas um amigo com um apelido do cara mais valente do Zodíaco não deveria ser subestimado, ainda mais quando se teve um treinamento árduo no exército. Phillipe, Rafa, Michel Teló e a mina dele não apresentaram dificuldades ao montar suas barracas, deixando evidente a habilidade de sobrevivência na selva, tornando-os nossos campistas seniores.

             Com o acampamento em pé, rumamos à cachoeira, com propósitos de diversão e proveito do belo sol que abraçava o vale. Entrar na água foi um desafio para os valentes, o gelo congelava até a sua alma. Titubeei no começo, mas me rendi aos encantos do local e abracei a causa. Já estava com água um pouco acima da cintura quando aquele bando de chupetas meus amigos começaram a me jogar água de todas as direções possíveis e enfim mergulhei, congelando até o cu curtindo a cachoeira numa boa. Inclusive uma moça bem totosa estava se divertindo horrores pulando de “bombinha” na água. O fato não seria tão estranho se ela não tivesse de calça-jeans.

Vale lembrar que o guerreiro das águas, Shiryu, o campista hardcore, foi amplamente solicitado para invocar os poderes da cólera do dragão, mas deixou a galera na curiosidade. Shiryu, não deixe seus fãs na mão da próxima vez, ok?

Atenção você que é adolescente! Cuidado com os apelidos que dar ou receber, pois estes codinomes podem te acompanhar até o final da vida, proporcionando potencial carga de bullying por conta dos seus amigos com vinte anos ou mais.

                         

                Saí da cachoeira mais cedo que o pessoal porque precisava descansar, tinha ido dormir as 3:30 da madruga e acordado as 6:30, então minha estamina estava um tanto quanto reduzida e precisava recuperar umas horas de sono. O sol forte impediu que eu dormisse na barraca, então joguei o saco de dormir na grama, assim como fez a Nat com seu colchão de ar, e ali tirei uma pestana.

                 Fui acordado pelos brothers me convidando para ir até a ponte do trilho de trem. Convidei a Nat, mas ela sentiu que o nível da caminhada de nem 1km seria muito hard para uma iniciante e optou por ficar lagarteando em seu colchão de ar. A Nat é um ser com uma doença grave, a doença do século XXI que infelizmente é muito difícil de ser curada e que impossibilita atividades físicas, tais como andar mais que 50m e subir escadas. Para distâncias superiores a 50m, é necessária a utilização de uma cadeira de rodas ou um carro. Infelizmente, a Nat é uma refém do sedentarismo.

                         

   A caminhada até o local foi tranquila e já de cara identificamos que o trem passava em intervalo menor que os dos biarticulados em horário de pico. O grande objetivo era ficar nos abrigos da ponte enquanto o trem passava, mas eu não fui porque sou bundão porque tenho problemas com altura na minha última visita ao local já tinha me cagado o suficiente excedido por demais meus limites de coragem. Assim que o trem passou fui até o pessoal, que estavam maravilhados com a experiência de ver um trem passando a poucos centímetros do rosto, em um espaço minúsculo de concreto, na altura de pelo menos 60 metros de altura em uma ponte precária. Vale lembrar que lá em baixo não tem rio, só pedra! Se cair lá de cima, dá tempo de gritar o alfabeto inteiro duas vezes antes de virar patê.


Ainda na ponte, o pessoal começou a tirar um som, deixando o clima extremamente agradável. Sentados no trilho de trem, ar fresco em nossos rostos, pôr do sol em um lugar fantástico... não posso reclamar desta parte. Mesmo com minha quase acrofobia, senti-me confortável para apreciar o visual.

Batemos em retirada assim que o sol se pôs, pois logo em seguida obviamente escureceria e ninguém havia trazido lanterna, além do que precisávamos cuidar dos preparos para a grande noite. Da última vez que eu tinha ido ao local, era necessário comprar a lenha para a fogueira, vinha em pacotes e tinha o custo aproximadamente de R$ 8,00, mas desta vez o Alemão indicou um lugar próximo a entrada da propriedade onde encontraríamos o insumo (e como voltaríamos neste lugar nas próximas horas).

Quando a noite tomou conta do lugar, a fogueira já estava acesa (e bem acesa!) e o céu estrelado traçava o melhor plano de fundo possível. Esta é uma das partes mais legais de se acampar. Fogueira, amigos, música, piadas, risadas, histórias, comes e bebes... tudo numa perfeita harmonia. Nossos músicos fizeram a noite: Ar no baixolão, Rafa no violão/meia lua/voz, Kauan no bongô, Nat cantando também e Philippe revezando a meia lua também. Assim que o fogo começava a enfraquecer, todos se mobilizavam para ir até o local antes indicado para trazer mais madeira e assim a noite seguiu.

Aos poucos o pessoal começou a se recolher nas barracas e ficaram apenas eu, Phillipe, Ar e Kauan. Eu não bebo, mas meus amigos fizeram o favor de beber por mim e pela torcida do flamengo, representaram forte, deixando a sobriedade se esvair junto com as cinzas da fogueira. Não demorou para que começássemos aquele papo tradicional masculino, com várias risadas e pérolas, tais como ficar fazendo “sinal de pica avulsa” para os outros acampamento com esperança miserável, mas o que importava mesmo é que a cena era extremamente cômica.

Para finalizar a noite, um cara com a camiseta do justiceiro saiu de outro acampamento, próximo ao nosso e veio cambaleando até a nossa roda, com uma garrafa long neck de skol, indicando o certificado de doidão. Convidei o vizinho a se juntar a nós e não demorou muito para se mostrar um piadista nato. O detalhe é que ele não fazia piadas, ele era a própria! O justiceiro teve o azar de chegar na roda bem naquele momento papo cabeça, pois o tema em questão era logística no Brasil e o nó rodoviário. O cara não conseguia falar nada, todas as suas frases eram incompletas. Ele começava:

- É! Tipo!...

Ficávamos na expectativa de que ele fosse terminar a frase, mas ele sempre emperrava. Como o estado do pessoal não estava tão distante do justiceiro doidão, resolvemos abortar a missão e dormir.

Em breve o relato do dia 2...

domingo, 16 de setembro de 2012

Arrumem suas malas, vamos para a Cachoeira do Alemão!

Planejamento


Já fazia algum tempo que eu queria acampar, é um hobbie, mas não mexia minha bunda gorda para organizar nada. Certo dia, sentado em frente ao computador, comecei a dar uma olhada nos feriados e me dei conta que sete de setembro seria perfeito para realizar a trip, já que seria numa sexta-feira.

            Criei o evento, selecionei as pessoas da minha lista que acreditei terem algum interesse em acampar e logo começamos a movimentar opiniões de lugares. Até chegarmos a consenso, demorou um pouco. Sugeri o Recanto dos Papagaios, mas logo ficamos sabendo que o lugar é cheio de vileiros muito mal freqüentado e optamos por ficar longe dos farofeiros.

              Eis que alguém falou de uma tal de Cachoeira do Panelão, lugar sensacional, com muitas árvores, trilhas e obviamente, uma belíssima cachoeira. Para estruturar melhor o “evento”, escrevi um documento em formato 5W2H. O documento também serviu para mostrar aos indecisos que a viagem era possível, detalhando passo a passo como tudo funcionaria. Venda bem seu peixe e conquiste vários clientes!

            O grande problema é que o Panelão estava em reforma. Liguei para os proprietários e fui informado de que o local talvez abrisse para o feriado de sete de setembro. Todos nos animamos e várias confirmações apareceram. Teve uma hora que faltou até carona para todos que confirmaram, de tanta gente que estava interessada. Chegamos a um detalhe bem importante, que também foi o divisor de águas da nossa aventura eminente, o preço do Panelão. O proprietário do local confirmou a abertura e também informou o preço...



O amigão queria nos cobrar quase CEM MANGOS (R$ 100) para passar três dias no local, um absurdo para quem quer curtir um acampamento, que deveria ser até então um programa de pobre mais econômico do que viajar para praia ou semelhantes. Quando o cara não quis nem negociar, independente de quantas pessoas iriam, fiquei com vontade de mandá-lo tomar no rabo e desliguei o telefone, informei o pessoal do problema financeiro em questão e todos concordaram que seria inviável.

              Tínhamos pensado também na Cachoeira do Alemão, local já conhecido e aprovado por mim em outra empreitada. Pelo que lembrava, a diária no Alemão era dez mangos, então gastaríamos no máximo trinta para os três dias. Não parecia tão legal quanto o Panelão, mas era o que tinha para hoje nossa única opção, pois todas as outras eram ou muito longe ou muito caras. Nos 48 do segundo tempo uma galera começou a desistir e cheguei a pensar em abortar o evento, mas na noite de quinta-feira conseguimos 2 carros, 1 fusca e 12 pessoas.

Hey Ho! Let’s Go!


Combinamos de nos encontrar as 8hrs no posto Ipiranga da sete de setembro, próximo a praça do Japão. Devido ao atraso de três horas da Natália problemas de logística, saímos de Curitiba as 11hrs. O detalhe é que para economizar espaço nos carros, resolvemos amarrar algumas malas no rack do Herbie, o fusquinha malandro.

Fui suficientemente esperto para colocar meus travesseiros em cima do fusca, escolha da qual futuramente me arrependeria amargamente (vocês descobrirão na sequência o porquê).

             A estrada estava tão agradável de trafegar quanto quando ficamos com vontade de cagar enquanto tomamos banho, você não quer fazer isso, mas é necessário. O Huppes estava com um bigodinho a lá Fred Mercury e um boné com desenhos abstratos, dirigindo o Herbie deixava a cena um tanto quanto caricata. Ao longo da rodovia, nosso amigo fusca estava indo bem, chegando até 100 km/h, pasmem. Ia chacoalhando feita batedeira em mãos de Parkinson, mas ainda assim, rumando seu destino.

           A situação começou a ficar delicada quando quase batemos no carro do nosso amigo Philippe, dando uma freada que fez o Herbie derrapar, parando a poucos centímetros dele. Nosso motorista sinalizou:

- O freio colou.

Curioso com o pronunciamento, questionei:

- Como assim? Que porra significa isso?

- Estamos sem freio.

- Hm.

Tensão total. Trafegar pela rodovia sem freio parecia um tanto quanto perigoso, mas como eu estava em total espírito de aventura, liguei o foda-se não me preocupei.

           Chegamos à estrada de terra e o fusca parecia desenvolver melhor, segundo o piloto Huppes, ele tinha sido feito para navegar neste tipo de estrada, como se fosse um mini Jeep. Conforme íamos progredindo no percurso, lembrei de um detalhe importantíssimo...

Estrada de terra... bagagens em cima do Herbie... meus travesseiros... merda.

Conclui que afinal de contas não seria uma das noites mais agradáveis dormindo no meu saco de dormir e com travesseiros 100% poeira de estrada. O espírito aventureiro sempre presente, desanimar jamais, o negócio é AVENTURA!

             Pouco depois de passar por uma placa que indicava apenas 4 km do nosso destino, tivemos nossa primeira parada, não para apreciar a vista, não para descansar e tomar água fresca em uma bica, mas para prestar devido atendimento ao Herbie, que estava apresentando um sintoma preocupante... fumaça saindo do motor. Abrimos o capô e lá estava o problema, bem em frente aos nossos olhos. Ainda bem que o problema era bem visível, coisa que até aqueles golfinhos que colocam círculos e quadrados em espaços quebra-cabeça, conseguiriam identificar. Duas engrenagens próximas e uma correia solta...



















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A continuação do relato virá a seguir para que o post não fique maior do que já está :D